Durante o Diálogo de Alto Nível sobre Inteligência Artificial e Governança de Plataformas realizado em São Paulo, no âmbito da Aliança Digital UE-América Latina e Caribe, a RedCLARA apresentou os avanços do projeto BELLA II, com ênfase na implementação de seu testbed de computação de alto desempenho (HPC).
Nesta visão ecossistêmica, o projeto BELLA II não só ampliará a infra-estrutura troncal da RedCLARA para cinco novos países (Peru, Costa Rica, Guatemala, Honduras e El Salvador), mas também implantará espaços de experimentação tecnológica ou leitos de teste, que incluem HPC, blockchain e segurança cibernética.
Esses ambientes são projetados para acelerar a pesquisa aplicada, inovação e validação tecnológica tanto na academia como nos setores produtivos. "Aplicativos baseados em inteligência artificial não só exigem grandes volumes de dados: eles precisam de conectividade estável, baixa latência e acesso a computação de alto desempenho. Por isso, a abordagem do BELLA II é ecossistêmica", disse Luis Eliécer Cadenas, diretor executivo da RedCLARA.
Um dos primeiros casos de uso dos leitos de teste foi um projeto liderado pela Universidad del Valle de Guatemala (UVG), que realizou simulações de modelagem molecular focadas na biorremediação de águas contaminadas, fazendo uso dos recursos do testbed de HPC de BELLA II. Graças às ferramentas de HPC, foi possível modelar com alta precisão o comportamento de nanopartículas derivadas do processamento de camarão, demonstrando seu potencial para remover contaminantes. Este tipo de estudos, que normalmente levariam meses, puderam ser concluídos em semanas.
Os resultados evidenciaram como a computação avançada acelera o desenvolvimento científico e sua aplicação concreta nos desafios que enfrenta a região. Essa abordagem, segundo Cadenas, abre caminho para outras aplicações estratégicas, como medicina de precisão, modelagem climática e otimização de cadeia de valor por IA.
A apresentação foi articulada com a mesa sobre IA e Infraestrutura de Supercomputação realizada durante o Diálogo Político, que reuniu o CeNAT da Costa Rica, o Barcelona Supercomputing Centre, SCALAC e outras instituições-chave.
A sessão também destacou o papel do SCALAC, o Sistema de Computação Avançada da América Latina e do Caribe, como parceiro-chave da RedCLARA e do BELLA II. A prestação do serviço de testbed de HPC nos centros de computação SCALAC em nove países consolida uma infraestrutura regional resiliente e distribuída e reforça um modelo colaborativo voltado para facilitar o acesso a recursos computacionais de alto nível e fortalecer as competências técnicas na região, em áreas como bioinformática, simulação e análise de dados.
Carlos González, gerente de serviços da RedCLARA, aponta que o testbed HPC da BELLA II se perfila como um serviço escalável e sustentável. Seu roteiro para 2025 inclui a adesão formal de centros regionais, a otimização dos processos de acesso e suporte, e uma estratégia de sustentabilidade baseada na diversificação de usuários e no alinhamento com desafios científicos prioritários como saúde pública, agricultura, energia e biotecnologia.
Essa implantação não só amplia o acesso à supercomputação, mas contribui ativamente para reduzir a lacuna tecnológica. Como enfatizou Cadenas, os testbeds de BELLA II se tornarão um pilar fundamental para o futuro científico e econômico da região no quadro de uma cooperação bi-regional robusta e centrada no humano.
O Diálogo de Alto Nível sobre Inteligência Artificial e Governança de Plataformas Online foi realizado de 1 a 3 de julho de 2025 em São Paulo, Brasil. Organizado pela União Europeia e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, em colaboração com IRCAI (International Research Centre for Artificial Intelligence, sob os auspícios da UNESCO), GIZ, CEPAL e o Centro Brasileiro de Informação de Redes (Nic.br).
O evento reuniu representantes de governos, organismos multilaterais, centros de pesquisa e redes acadêmicas das duas regiões. Neste espaço, foram discutidas estratégias para uma inteligência artificial centrada nas pessoas, o papel da infra-estrutura de supercomputação na inovação científica, e a importância da colaboração bi-regional para reduzir as brechas tecnológicas e construir um ecossistema digital mais equitativo e sustentável.
